Adriano: "De todas essa foi a pior, que sofismo é esse?!"
Sérgio: "Essa eu quero ver!"
Nicolau: "Haha! Não é sofismo, veja bem...vamos supor que o preconceito seja o réu de uma acusação, e eu seu advogado. Sei que "ele" cometeu muitos crimes, não pretendo absolve-lo, mas quem sabe atenuá-lo"
Pois bem, mãos a obra!
Comecemos pela etimologia, preconceito quer dizer conceito pré concebido. Eis dois exemplos que diferenciam o conceito do preconceito:
O ser humano em geral é mais favorável ao dia e a luz do que a noite e a sombra. Mas por que exatamente? Sabemos que de dia podemos enxergar o mundo com maior facilidade,tudo é claro e revelado a nossa consciência. Ao passo que durante a noite o misterioso véu da sombra esconde a realidade de nossos olhos e a falta de luz nos remete a solidão e ao silêncio do descanso.Nesse exemplo,percebemos que houve um conhecimento da realidade,uma valoração e finalmente, um conceito favorável ou reprovável. Daí o conceito de bem e mal. Eis uma das mais primordiais características humanas, formular e valorar conceitos.
Agora, o segundo exemplo, o preconceito, que assim como o conceito, surge da capacidade valorativa humana.
Roubos nunca são engraçados, mas esse foi no mínimo irônico. Em certa propaganda de TV , um rapaz afro-descendente estava contando que enquanto passeava na rua em certa hora da noite uma mulher branca,que estava mais a frente, preferiu atravessar a rua para não ter de se aproximar dele, ela acabou passando por dois jovens brancos, que a assaltaram.
O que estão pensando agora? Provavelmente algo parecido com: "Bem feito!"
Claro, o preconceito nos causa indignação, ou pelo menos deveria causar. Mas eis a questão:
O preconceito é um conceito pré concebido,mas pré concebido de onde?Afinal, por que ela achou que seria assaltada?
Para entender isso devemos perceber como o ser humano se prepara para enfrentar a vida em sociedade. Quando começamos a conviver socialmente, naturalmente tentamos nos prover de todos os conhecimentos, experiências e cuidados que são possíveis de adquirir. Mas infelizmente nunca estamos prontos o suficiente, exatamente por ser um ambiente totalmente novo. Então o que fazemos? Buscamos conselhos, opiniões e vivências de outras pessoas como via de aprendizado. Em suma, os conhecimentos que supostamente adquirimos para vida em sociedade vem do senso comum, e por isso, são frequentemente passíveis de engano. Formamos assim, um conceito que não conhecemos antes de ter contato com a realidade, formamos preconceitos!
Mas é natural, é um sistema de defesa de todo ser humano, nosso medo natural da inevitável mudança nos compele a nos preparar, a antecipar o desconhecido, a formar preconceitos!
Então, graças a que mesmo ela achou que seria assaltada?
Em certo momento de sua vida, essa mulher quis ter alguma salvaguarda contra a violência. Assim, se pudesse identificar o perigo com antecedência, suas chances seriam maiores. Então estabeleceu um estereótipo de como
possivelmente seria o agente.
Parece-me que o raciocínio dela foi o seguinte: roupas que indiquem classe social baixa (uma vez que são os que hipoteticamente teriam mais necessidade de cometer o ato), entre 12 e 40 anos (idades com maiores indícios de criminalidade) e de pele negra (pois devido ao racismo estatal brasileiro, explicado no artigo de cotas, são os que contém a mais expressiva camada da pobreza).
Agora notem as palavras destacadas: possivelmente,indiquem,teriam, indícios. Essas palavras indicam, em algum grau, possibilidades. Pois, volto a ressaltar, o preconceito é baseado no senso comum e, portanto, é passível de erro, como no caso concreto.
É nesse ponto que realizo minha "defesa" ao preconceito.Pois vejam, verdadeiramente a conduta da mulher no caso abordado foi reprovável, mas podemos verdadeiramente culpá-la?
Bem vimos que é natural do ser humano se preparar para as mais diversas situações da vida formando preconceitos, mas a culpabilidade e o grau de reprovabilidade do preconceito variam de acordo com o juízo de valor do agente em comparação ao juízo de valor social, respeitando-se sempre a razoabilidade.
Julgue-mos a análise da mulher, nos três pontos já transcritos relativos ao crime ela produziu alguma inverdade? Penso que todos nós concordaríamos que em diversos(possibilidade de novamente!) casos as descrições supostas por ela seriam confirmadas.
Concluindo, a conduta preconceituosa pode parecer por muitas vezes reprovável, mas toda o preconceito possui alguma razão de ser, e entender essa razão nos ajudará a entender nós mesmos e os verdadeiros problemas de nossa sociedade (que partimos do pressuposto que não somos os causadores). É um mecanismo de defesa, que usado com razoabilidade pode nos orientar pelos tortuosos caminhos sociais, que por muitas vezes por sermos incapazes de mudar (quem não desejaria viver em um mundo sem a pobreza e dos problemas advindos dela?),acabamos tentando ao menos sobreviver nesse caos. Mas quando o preconceito é usado de maneira irracional (como o preconceito do branco contra o negro, por julgar-se superior),ele pode se transformar em doença social e motivo de discórdia entre os homens. Enquanto houver perigo na vida em sociedade haverá preconceito, o preconceito só pode ser verdadeiramente combatido por via reflexa, ao invés de tentar mudar nosso instinto, devemos tentar mudar aquilo que dá a razão de ser a ele,exatamente o problema que o motiva.
Adriano: "Não acredito..."
Sérgio: "Isso dá música!"
Nicolau: "Eis o elogio de Helena!Hahaha!"