quinta-feira, 30 de abril de 2009

Em defesa do preconceito.

Adriano: "De todas essa foi a pior, que sofismo é esse?!"
Sérgio: "Essa eu quero ver!"
Nicolau: "Haha! Não é sofismo, veja bem...vamos supor que o preconceito seja o réu de uma acusação, e eu seu advogado. Sei que "ele" cometeu muitos crimes, não pretendo absolve-lo, mas quem sabe atenuá-lo"
Pois bem, mãos a obra!

Comecemos pela etimologia, preconceito quer dizer conceito pré concebido. Eis dois exemplos que diferenciam o conceito do preconceito:

O ser humano em geral é mais favorável ao dia e a luz do que a noite e a sombra. Mas por que exatamente? Sabemos que de dia podemos enxergar o mundo com maior facilidade,tudo é claro e revelado a nossa consciência. Ao passo que durante a noite o misterioso véu da sombra esconde a realidade de nossos olhos e a falta de luz nos remete a solidão e ao silêncio do descanso.Nesse exemplo,percebemos que houve um conhecimento da realidade,uma valoração e finalmente, um conceito favorável ou reprovável. Daí o conceito de bem e mal. Eis uma das mais primordiais características humanas, formular e valorar conceitos.

Agora, o segundo exemplo, o preconceito, que assim como o conceito, surge da capacidade valorativa humana.


Roubos nunca são engraçados, mas esse foi no mínimo irônico. Em certa propaganda de TV , um rapaz afro-descendente estava contando que enquanto passeava na rua em certa hora da noite uma mulher branca,que estava mais a frente, preferiu atravessar a rua para não ter de se aproximar dele, ela acabou passando por dois jovens brancos, que a assaltaram.

O que estão pensando agora? Provavelmente algo parecido com: "Bem feito!"

Claro, o preconceito nos causa indignação, ou pelo menos deveria causar. Mas eis a questão:

O preconceito é um conceito pré concebido,mas pré concebido de onde?Afinal, por que ela achou que seria assaltada?

Para entender isso devemos perceber como o ser humano se prepara para enfrentar a vida em sociedade. Quando começamos a conviver socialmente, naturalmente tentamos nos prover de todos os conhecimentos, experiências e cuidados que são possíveis de adquirir. Mas infelizmente nunca estamos prontos o suficiente, exatamente por ser um ambiente totalmente novo. Então o que fazemos? Buscamos conselhos, opiniões e vivências de outras pessoas como via de aprendizado. Em suma, os conhecimentos que supostamente adquirimos para vida em sociedade vem do senso comum, e por isso, são frequentemente passíveis de engano. Formamos assim, um conceito que não conhecemos antes de ter contato com a realidade, formamos preconceitos!

Mas é natural, é um sistema de defesa de todo ser humano, nosso medo natural da inevitável mudança nos compele a nos preparar, a antecipar o desconhecido, a formar preconceitos!

Então, graças a que mesmo ela achou que seria assaltada?

Em certo momento de sua vida, essa mulher quis ter alguma salvaguarda contra a violência. Assim, se pudesse identificar o perigo com antecedência, suas chances seriam maiores. Então estabeleceu um estereótipo de como possivelmente seria o agente.
Parece-me que o raciocínio dela foi o seguinte: roupas que indiquem classe social baixa (uma vez que são os que hipoteticamente teriam mais necessidade de cometer o ato), entre 12 e 40 anos (idades com maiores indícios de criminalidade) e de pele negra (pois devido ao racismo estatal brasileiro, explicado no artigo de cotas, são os que contém a mais expressiva camada da pobreza).
Agora notem as palavras destacadas: possivelmente,indiquem,teriam, indícios. Essas palavras indicam, em algum grau, possibilidades. Pois, volto a ressaltar, o preconceito é baseado no senso comum e, portanto, é passível de erro, como no caso concreto.
É nesse ponto que realizo minha "defesa" ao preconceito.Pois vejam, verdadeiramente a conduta da mulher no caso abordado foi reprovável, mas podemos verdadeiramente culpá-la?
Bem vimos que é natural do ser humano se preparar para as mais diversas situações da vida formando preconceitos, mas a culpabilidade e o grau de reprovabilidade do preconceito variam de acordo com o juízo de valor do agente em comparação ao juízo de valor social, respeitando-se sempre a razoabilidade.
Julgue-mos a análise da mulher, nos três pontos já transcritos relativos ao crime ela produziu alguma inverdade? Penso que todos nós concordaríamos que em diversos(possibilidade de novamente!) casos as descrições supostas por ela seriam confirmadas.
Concluindo, a conduta preconceituosa pode parecer por muitas vezes reprovável, mas toda o preconceito possui alguma razão de ser, e entender essa razão nos ajudará a entender nós mesmos e os verdadeiros problemas de nossa sociedade (que partimos do pressuposto que não somos os causadores). É um mecanismo de defesa, que usado com razoabilidade pode nos orientar pelos tortuosos caminhos sociais, que por muitas vezes por sermos incapazes de mudar (quem não desejaria viver em um mundo sem a pobreza e dos problemas advindos dela?),acabamos tentando ao menos sobreviver nesse caos. Mas quando o preconceito é usado de maneira irracional (como o preconceito do branco contra o negro, por julgar-se superior),ele pode se transformar em doença social e motivo de discórdia entre os homens. Enquanto houver perigo na vida em sociedade haverá preconceito, o preconceito só pode ser verdadeiramente combatido por via reflexa, ao invés de tentar mudar nosso instinto, devemos tentar mudar aquilo que dá a razão de ser a ele,exatamente o problema que o motiva.
Adriano: "Não acredito..."
Sérgio: "Isso dá música!"
Nicolau: "Eis o elogio de Helena!Hahaha!"

4 comentários:

  1. Gostei do ponto defendido no artigo.Concordo com a proposta e a conclusão, porém gostaria de fazer a seguinte proposição :
    Já que foram discriminadas as causas geratrizes do preconceito, como sendo um senso de auto-preservação baseado em informações externas ao acusado, ou seja, o Domínio Público (Informações estatísticas baseadas em órgãos de pesquisa, governamentais ou não.), experiências de terceiros, etc. Devemos ser capazes de observar que, a CULPABILIDADE do preconceito não cabe à Mulher, mas ao ato de quem julgou ser, a Mulher, preconceituosa.
    Digo isso pois como haverá a mulher de ser culpada, simplesmente por ser Vítima das suas próprias escolhas, ou do seu livre arbítrio? Ela atravessou a rua pois tinha o direito de imaginar, estatisticamente como foi dito, e por sua própria conta e risco, que estava ameaçada. Se ela estava certa ou não, o desdobramento da historia nos mostra mas, avaliar o bem e mal sofridos cabe unicamente a ela.
    Sua reação não foi de julgar, o caráter do jovem negro ofensivamente, ou se foi, permaneceu no íntimo de seus instintos, não causando por tanto,um dano social. Pode ser que depois, ao ser abordada por jovem brancos ela tenha sofrido, além do dano material, o dano moral, por ter visto que seu conhecimento pré adquirido tenha sido falho.
    A pena moral, por ter agido te tal forma não cabe a um terceiro delegar. Apenas a mulher poderá resolver se dá próxima vez agirá da mesma forma, dá mesma maneira que todo ser humano são, reavalia ( e tem todo o direito de o fazer) suas posturas afim de conduzir uma melhor existência para si.
    O Acusador julga a mulher baseado também em preconceitos próprios. De que outra maneira poderia ele afirmar que a mulher se sentiu ameaçada por estar sozinha, acompanhada unicamente por um jovem negro? Digo que também o Acusador, se estivesse em situação igual também se sentiria desconfortável.
    Se a ação dá Mulher foi absolvida, por constatar-se que não foi o jovem negro lesado de seu direto, e o próprio acaso dando mostra real disto, aquele que acusa é que se torna o Arrogante, aquele que julga estar acima da ação dos outros, podendo sentenciar juízos a respeito de outrem, por tanto o verdadeiro preconceituoso. Com isso espero ter trazido à luz um novo enfoque e por tanto fazendo ver Aquele que Julga o ato preconceituoso, como sendo ele mesmo agente do preconceito.

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  2. Bem, em tempos normais eu diria "muito inteligente", mas a minha atual concepção sobre oque é o mundo me permite somente dizer que o mundo,ou a realidade como alguns preferem, é criada por nós e cabe somente a nós modifica-la, é claro que fatos sociais como o preconceito, muito bem desenvolvido neste post do blog, podem ser impostos a uma determinada pessoa, entrementes, a opção de desvirtuar ou não sua maneira de agir e sentir depende exclusivamente do indivíduo.

    "A Inteligência tem limites, a ignorância não"

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  3. Gostei do texto do Oberdan. Também concordo. legal o artigo, Nico!!!

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